O home office se tornou o novo messias do mundo corporativo.
Diante de uma crise econômica e social sem precedentes na história mundial, ele ganhou a posição de verdadeiro inaugurador de uma nova era empresarial.
“Escritório convencional? Isso acabou! Agora é a vez do home office!”, afirma um usuário enérgico no LinkedIn.
“É o novo normal!”, bradam os entusiasmados por aí.
Será?
Nesses tempos de pandemia, vejo que vigora nos círculos de discussão a defesa incontestável e até mesmo apaixonada do home office.
Ele é colocado por alguns como uma espécie de panaceia organizacional, que tratará de solucionar todos os problemas ligados à logística de pessoas e trabalho.
E então determinados gestores, sem o menor esforço ou análise mais profunda, são convencidos: home office pra ontem! Hoje, amanhã e pro resto dos nossos dias!
O que pode explicar isso?
Mesmo que errado, é um tanto natural esse pensamento.
Convenhamos que aquilo que é novidade sempre desperta a nossa curiosidade.
O home office não fazia parte da vida de muita gente e num piscar de olhos, por um motivo de força maior que ninguém previa, vira uma realidade.
O que já era rotina para alguns é encantador para muitos outros, que se deslumbram com essa coisa de trabalhar remotamente. Um colega meu, um executivo experiente já com os seus 50 anos, disse que se sentia no mundo dos Jetsons, com uma reação semelhante a uma criança que acabou de ganhar um brinquedo novo no Natal.
Há uma vertente de pensamento pertinente que analisa os impactos psicológicos do trabalho remoto, em especial o potencial sentimento de marginalização da força de trabalho, provocados pela pouca necessidade de locomoção do trabalhador e a ausência de interação presencial com outros colegas.
Há, ainda, a clássica questão da produtividade de uma equipe, uma incógnita que só se revela com o tempo.
Existem negócios mundo afora que, mesmo antes da pandemia, tentaram adotar trabalho total ou parcialmente remoto, tiveram problemas e se viram na necessidade de retornar ao modelo tradicional.
E não são empresas para desprezarmos. Estamos falando de negócios de estatura respeitável, como IBM, Aetna, Best Buy, Bank of America, AT&T, Reddit e Yahoo.
O Yahoo talvez seja o case mais emblemático nesse tema. Em 2013, a então CEO Marissa Mayer, em decisão altamente controversa, baniu por meio de um ultimato a possibilidade de seus colaboradores trabalharem em suas casas.
O principal argumento para fundamentar a decisão foram questões ligadas à produtividade e criatividade.
Em 2017, a IBM, curiosamente responsável por desenvolver muitas das soluções para trabalho remoto e pioneira nesse modelo, convocou muitos dos seus colaboradores remotos ao retorno do trabalho em seus escritórios.
A motivação, segundo fontes internas, teria sido a premissa de que ideias inovadoras surgem com mais facilidade com a reunião presencial de um time.
A importação automática de filosofias de trabalho
Sempre fui crítico dessa crescente tendência que alguns gestores têm de importar, sem nenhum tipo de ajuste ou refinamento, filosofias de trabalho de alguma grande empresa que é mundialmente admirada pela sua inovação.
Entenda que esse não é um artigo contrário ao home office, mas sim à ideia pré-concebida, dada culturalmente, de que ele é uma espécie de fórmula ou receita pronta para melhorar o ambiente de trabalho e alavancar resultados.
E diante de toda essa empolgação com esse novo jeito de trabalhar, não é demais parar para refletir um pouco: estamos diante de uma unanimidade burra em torno do home office?
Porque como diria o grande Nelson Rodrigues, que não viveu para presenciar esses tempos, toda unanimidade é burra. E no mundo dos negócios, pode ser custosa caso a decisão tomada pela unanimidade se revele ruim no futuro.