O poder das informações duvidosas é maior do que nós imaginamos

Relato abaixo algo que presenciei recentemente. É interessante para se mostrar o perigo de ser vítima da desinformação e auxiliar, mesmo que involuntariamente, o aumento do seu alcance.

Um blog de um jornalista relativamente famoso replicou uma matéria que fala sobre um levantamento a respeito de “fake news” que tomou como base um estudo feito por um grupo de pesquisadores de uma instituição acadêmica.

O link para a referida postagem apareceu na minha linha do tempo de forma casual, através de uma pessoa que é minha conexão há muito tempo.

No corpo da matéria, são elencados portais que, segundo as conclusões do tal estudo, são notórios propagadores de “fake news”.

Ocorre que no meio dessa listagem de portais que realmente não possuem credibilidade, são citados três portais que são tidos como confiáveis, possuem uma audiência relevante e são mantidos por nomes conhecidos, além de terem muito tempo de estrada. Resumindo: no meio do balaio, se mistura aquilo que não faz parte desse balaio. Estranho.

Mais estranho ainda é notar que os nomes dos pesquisadores responsáveis pelo estudo são omitidos (desculpe, mas “pesquisadores da Universidade X” não me convence), enquanto a metodologia adotada é explicada de forma pouco objetiva e ausente de clareza. 

A matéria ainda afirma que o estudo tem como critério principal a presença do anonimato nas publicações. Esse critério, no entanto, não se aplica aos três portais, já que todos os autores das publicações exibidas nos mesmos são visíveis e até mesmo contatáveis.

Outro ponto a se destacar é a falta de uma seção de referências no final, coisa obrigatória quando se produz um conteúdo que faz menção à estudos realizados por entidades ou associações. Tal fator contribui mais ainda para a falta de credibilidade do texto em questão.

E mais: ao jogar o nome do responsável pela redação da matéria no Google, temos uma pessoa que aparenta demonstrar simpatia justamente pela posição ideológica antagônica à que se encontra presente na linha editorial dos portais supramencionados.

Seria esse cidadão parte interessada na produção de um conteúdo desse tipo? É uma possibilidade e tanto. 

Conclusão

Se eu não tivesse tomado um generoso tempo para checar esses elementos, provavelmente teria expandido o alcance dessa publicação através de um mero compartilhamento.

Porque não há nada que impeça que tenhamos produtores de “fake news” cujo intuito é simplesmente chamar outros de “fake news” e comprometer a credibilidade alheia propositalmente. Esses indivíduos podem, inclusive, se valer de uma falsa narrativa de fazer isso em prol da utilidade pública, quando na realidade estão ali para agir à serviço de alguém que nós provavelmente nunca saberemos quem é.

Esse é mais um caso que mostra o poder das informações de caráter duvidoso que aparecem na Internet e o potencial estrago que isso pode gerar.

E é exatamente por isso que todos nós devemos tomar muito cuidado com o que lemos e às vezes, motivados pelo automatismo, compartilhamos. 

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