Uma explicação prática sobre o conceito de mensuração de riscos. Ou: por que não um seguro para um apostador em Las Vegas?

Todo e qualquer seguro só é possível de ser idealizado se houver meios de mensurar o risco proposto, tanto para precificá-lo como para determinar as condições contratuais que o acompanham.

Para provar esse ponto, vamos a um exemplo:

Vamos supor, por um breve momento, que alguém tenha como sugestão um seguro cuja função seja cobrir as perdas de um apostador em Las Vegas.

Sem qualquer dúvida, isso seria prontamente negado por qualquer seguradora, pois:

  • não temos critérios/meios precisos de mensurar o risco e;
  • é evidente a sua concentração e predominância na atividade em questão.

Mas vamos seguir. Para fim de exemplo, vamos tomar como base a famosa roleta dos cassinos, quase que uma marca registrada deles.

Estamos partindo do princípio de que a roleta é ausente de vícios comportamentais, ou seja, não possui tendência alguma de entregar resultado x, y ou z.

Apostando em “par” ou “ímpar”, a chance de vitória do apostador é de 18 em 36 ou 50% para os dois resultados, já que há a mesma quantidade de números pares e ímpares na roleta. A chance de derrota, obviamente, é também de 50%.

Em uma noite, ele faz 100 apostas com montantes iguais, segmentando, de forma alternada, 50 em “par” e outras 50 em “ímpar”.

Na noite seguinte, faz exatamente a mesma coisa, seguindo o mesmo padrão de apostas.

A não ser que aconteça algo que é de uma probabilidade menor que um átomo, ele terá duas sequências de resultados completamente diferentes.

Como você pode observar, mesmo que seja possível determinar as probabilidades de ganho e perda através de uma mera constatação matemática, é racionalmente impossível de identificar, com precisão, um padrão de resultados que o apostador venha a ter, já que estamos lidando com um jogo de azar, que é pautado pelo princípio da aleatoriedade.

Nesse exemplo, nós trabalhamos com um cenário que contém uma aposta simples, que já se demonstra inviável.

Agora imagine um cenário com mais rodadas, múltiplas apostas e diferentes montantes apostados em cada uma delas.

É tecnicamente impossível avaliar os impactos de todas essas variáveis na banca do apostador para entregar um produto securitário. Qualquer departamento atuarial enlouqueceria.

Sendo impossível de mensurar, não há como existir algo do gênero.

Se quiser fazer o teste de forma mais simples com as mesmas probabilidades do exemplo acima, você pode clicar nesse link do Random.org (famoso serviço de fornecimento de dados randômicos) para jogar “cara ou coroa” com 100 moedas.

Para jogar pela segunda vez, basta atualizar a página.

Você certamente terá uma outra sequência de moedas completamente diferente (mas se tirar exatamente a mesma sequência, faça o favor de jogar na Mega-Sena para ser o novo milionário brasileiro).

Eu espero ter conseguido explicar, de uma forma prática, o conceito de mensuração de riscos no mercado segurador.

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