Eu relutei em falar sobre esse assunto aqui por achar um tanto destoante da temática central do blog, mas no fim das contas decidi escrever a respeito, pois considerei relevante.
Esse que vos escreve torce para o Corinthians. Nos últimos anos, vi grandes jogos, jogadores de destaque e títulos. Meu time, de maneira geral, só trouxe alegrias na esfera do futebol.
A mesma alegria, porém, não ocorre na esfera administrativa.
Depois de ver tantas manchetes policialescas no noticiário envolvendo o clube de forma bastante contundente, decidi ressaltar a importância de deixarmos de lado nossas paixões futebolísticas (essas até irracionais) e anularmos sua influência sobre o nosso senso de moralidade público-privada.
As eleições no Corinthians ocorrerão no dia 3 de Fevereiro e prometem ser muito conturbadas antes, durante e depois da sua realização. Alguns estopins desse clima são a atual situação financeira do clube e polêmicas envolvendo determinadas candidaturas no quesito da legitimidade.
No entanto, creio que a cereja do bolo das discussões seja a dívida gerada pela Arena.
Nos círculos corinthianos, noto que um determinado nome possui uma aceitação maior do que realmente esperava e sua volta ao poder é encarada como algo que seria benéfico ao clube. O motivo é muito simples e até óbvio: a associação que se faz entre a sua ascensão como protagonista no poder corinthiano e a guinada vitoriosa do time que se sucedeu após isso.
Temos, aqui, o evidente sintoma daquilo que é uma verdade perturbadora.
O constante sucesso futebolístico do Corinthians na última década, resultado de um misto de times e jogadores competitivos, títulos de expressão e ascensão midiática meteórica, acobertou as controvérsias existentes em variados aspectos da instituição e enfraqueceu qualquer discurso consistente que apontasse isso.
Quando a barriga está cheia e a alegria transborda no salão, os problemas e as preocupações são jogados para o segundo plano. E isso está longe de se limitar ao Corinthians ou à própria esfera clubística. Basta tomar a seleção como exemplo. Na euforia do pentacampeonato mundial, arrisco a dizer que ninguém relevante do jornalismo se propôs a falar de possíveis indícios de corrupção na entidade máxima do futebol brasileiro.
É, também, a mesma lógica de um governo que utiliza um relativo sucesso econômico em benefício próprio para criar uma cortina de fumaça e assim esconder suas tramoias.
A Arena Corinthians, outrora bradada como grande orgulho e realização, virou motivo de preocupação e objeto de investigação depois que a natural onda de euforia baixou e a Operação Lava Jato expandiu seu alcance.
Hoje, vemos que ela é fruto de uma relação promíscua e nebulosa entre atores do cenário político e empresarial.
Se você realmente é torcedor e quer ver o bem do Corinthians, você tem a obrigação moral de defender uma investigação séria que coloque a Arena como aspecto central.
Mesmo que isso implique em desgaste à imagem do clube, você estará afirmando seu compromisso com a moralidade.
Tornar claro o que se passou nesse projeto é tão importante quanto apresentar uma solução para cumprir com as obrigações financeiras relacionadas a ele.
Você deve ter em mente que torcer para o Corinthians não significa assumir uma postura de inércia ou condescendência com o obscuro e o incorreto que envolvem o clube direta ou indiretamente.
Porque o apreço por um time de futebol não está acima da moralidade sob qualquer perspectiva e nem deve ser usado como justificativa para solapá-la.
Porque se um dia aceitarmos que nossas paixões irracionais relativizem nosso senso de moralidade, nós esvaziaremos o próprio sentido da expressão e entraremos um terreno perigoso.