Há um problema. A sociedade debate a sua natureza, seus estopins e todos os outros pormenores. Em meio ao seu esforço para viabilizar uma solução, toca-se, num automatismo incrível, na capacidade do governo de movimentar seus braços para resolvê-lo.
A caneta do burocrata é vista como uma varinha mágica, o burocrata da ocasião é o rei da lâmpada e a letra da lei parece possuir algum poder divino que nem os mais eruditos do último século saberiam explicar.
No Brasil, impera o “estatolatrismo”. Uma espécie de cultura de veneração a um poder de resolução que o Estado supostamente tem.
Em nossa história, incontáveis governos com retóricas nacional-desenvolvimentistas que ajudaram a sedimentar esse conceito na mentalidade pública em níveis que beiram a hipnose. Sendo o Brasil um país com problemas de variadas naturezas, esse tipo de retórica funciona e obtém aceitação. Afinal, se o Estado se movimenta para agir e propor soluções para nossos problemas, por que alguém deveria se opor a isso?
O resultado é uma visão de que o Estado é praticamente o monopolista de uma força capaz de mudar nossas vidas. É tido como o motor da nação, e seu nível de atividade determina a velocidade com que ela vai se movimentar.
Dado esse cenário, garanto que com os arranjos retóricos corretos e linguajar imponente necessário, pode-se convencer um grupo de pessoas de relativa inteligência que uma lei que decreta o fim de todos os males do Brasil irá realmente possuir algum efeito.
Enquanto isso, temos absoluta repugnância aos políticos. São inescrupulosos, oportunistas, manipuladores e mais toda a sorte de adjetivos negativos típicos que lhes são direcionados.
O Estado é constituído de vários elementos. Entre esses elementos, estão os políticos, protagonistas no poder. E nós detestamos os políticos.